sábado, 8 de outubro de 2016

Contar ou não contar eis a questão...



Sei do problema do meu marido desde sempre, sei, desde sempre também, que ele não fala disso com ninguém, ou melhor, com mais ninguém que não eu. Sempre assim foi e nunca me preocupou. 

Quando fomos à primeira consulta, e como nessa altura o problema estava apenas nele, mais uma vez não contamos a ninguém. Na primeira consulta o médico já conhecia o historial dele, já tinham até conversado os dois e decidido o que fazer. A primeira consulta foi então para marcar os exames para mim e traçar, mais ou menos, um caminho a seguir, nesta treta da infertilidade não há cá caminhos muito lineares a seguir, 1+1 nem sempre é dois!

Exames pedidos, exames marcados e, mais uma vez, não contamos nada a ninguém. Temos empregos com alguma facilidade de "faltar" ou alterar o horário, de todo o modo não gosto de dizer que simplesmente não vou no dia tal e tal. Por isso mesmo, não imaginam a quantidade de consultas que tive com a minha querida "alergologista " nos últimos tempos. É feio eu sei, mas é a desculpa fácil. Sofro de alergias, faço tratamento e já todos me conhecem alérgica e ranhosa por isso ninguém estranha.

No dia que descobri o meu problema nas trompas, aka dia dia histerossalpingografia, todo um mundo novo se abriu. Afinal eu também tinha um problema. 

Durante dias não falei com mais ninguém a não ser com o meu marido. Tive até alturas em que achei que o estava a maçar, apesar de ele dizer sempre que não eu sentia que não tinha mais assunto, sentia que estava a ser aborrecida e obcecada.

Um dia ele disse-me, acho que devias desabafar com uma amiga. Peço-te que não contes do meu problema mas podes contar do teu, para elas saberem o que estamos a passar e para teres mais ombros amigos para além dos meus. 

Assim foi, sem nada combinado a minha melhor amiga liga-me, só por que sim como em tantos outros dias, e pergunta então está tudo bem? O meu automatismo fez-me responder que sim mas ela percebeu e voltou a perguntar. Contei-lhe tudo, o que só a mim me diz respeito, e digo que foi a melhor coisa que podia ter feito!

É tão bom ter com quem falar, ter uma amiga que me liga depois das consultas, ter uma amiga que me diz que filho meu só podia dar trabalho até para ser feito pois "vai ser bem filhinho da sua mãe", ter uma amiga a dizer que se forem gémeos tem ali dois braços de reforço, ter uma amiga só para chorar e dizer dispares às vezes!

E pronto, neste momento sabem duas ou três pessoas. Ainda vou ter que mentir muito quando tiver que faltar. Não quero de todo que se saiba no trabalho, felizmente não entrego provas de presença na consulta, pois viam logo que eu estava a mentir. Não quero de todo que a família saiba, seria gerar preocupação para eles e mais pressão para nós. Mas ter contado a duas ou três pessoas que são para mim especiais, que são pessoas com quem sei que posso contar, aligeirou muito este peso.

A Infertilidade pesa como um elefante!

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